01/07/2020 até 28/12/2025
IB, Centro Avançado de Pesquisa em Proteção de Plantas e Saúde Animal
defesa fitossanitária
Sanidade Vegetal
A cultura do milho ocupa grande parte das terras cultivadas de nosso país. Mais de 18,4 milhões de hectares (28% da área total com cultivo de grãos) tem sido plantada com milho. Esta cultura já ultrapassou, nas últimas safras, a produção anual de 100 milhões de toneladas de grãos. A proporção do milho safrinha (segunda safra ou safra de outono-inverno) em relação à safra de verão tem sido crescente, estando próxima de 75% da safra total. Embora a cultura tenha se estendido muito no Brasil Central, o Estado de São Paulo é o segundo maior produtor da região sudeste, onde também está se intensificando a cultura do milho safrinha.
Entre os principais fatores de redução de produtividade da cultura do milho, estão as doenças. A medida básica e essencial para o adequado controle destas é o uso de cultivares com maior resistência, pois o milho apresenta grande variabilidade genética.
O lançamento de novos cultivares de milho (principalmente híbridos) pelas empresas de sementes é muito dinâmico. Um híbrido permanece comercial, em geral, por 3 a 5 anos. Existem atualmente, em torno de 200 cultivares de milho disponíveis no mercado de sementes do Brasil, onde cerca de 70% são transgênicas, e de custo mais elevado, implicando em maior investimento do agricultor em relação às cultivares convencionais. Tem sido crescente a proporção das cultivares transgênicas no decorrer dos anos, desde seu surgimento em 2008/2009.
Em relação ao ambiente, pelo fato do Estado de São Paulo estar localizado no centro da região produtora de milho do país e abranger áreas de transição climática entre as regiões centro-oeste, sudeste e sul, há locais com condições muito diversas de clima e também de altitude, além da proximidade com demais estados produtores, de forma que, em São Paulo, é favorecida a ocorrência das principais doenças do país.
Ao controle de doenças pela resistência, muitas vezes tem sido necessário associar medidas complementares para compor o manejo integrado, como o uso de fungicidas, pela grande pressão de doenças dada a vasta extensão da cultura, o cultivo durante todo o ano, estabelecendo uma ponte verde entre as safras, e o número grande e crescente de doenças. Desta forma, informações sobre os danos causados pelas doenças auxiliam a determinar o limiar de dano econômico e a definir a necessidade de aplicação de fungicidas, complementando o controle dado pela resistência e/ou tolerância dos híbridos.
Estudos anteriores têm demonstrado que os híbridos que apresentam aumento significativo na produtividade com a aplicação de fungicidas, sob ocorrência de doenças foliares, não são necessariamente aqueles com maiores severidades de doenças, exceto para os valores extremos, ou seja, severidades muito altas ou muito baixas implicaram em respostas na produtividade positivas ou nulas, respectivamente. Há híbridos transgênicos suscetíveis com resposta na produtividade variando de alta a nula e também há híbridos com resistência moderada que respondem ou não em produtividade ao uso do fungicida.
Além disso, também se constatou que o patógeno de uma das principais doenças foliares demonstrou perda de sensibilidade ao grupo de fungicidas das estrobilurinas, sobretudo nas regiões onde o uso de fungicidas é mais intensivo. Trata-se do fungo Phaeosphaeria maydis, agente causal da pinta branca ou mancha branca. Em função disto, há dificuldade no controle químico desta doença em muitas regiões do país. Estabeleceu-se, portanto, uma Rede Nacional de ensaios, coordenada pelo IAPAR, para comparação da eficácia de produtos, em parceria com diversas empresas, para o controle desta e outras doenças, sendo um dos ensaios conduzido no Estado de São Paulo. Empresas individuais também têm firmado parcerias para estudos comparativos da eficácia de fungicidas e suas misturas.
A dificuldade do controle da mancha branca com fungicidas, e também do isolamento do patógeno P. maydis por alguns autores, contribuiu para que surgissem dúvidas quanto ao agente causal da doença ser um fungo. Mas estudos de caracterização do fungo realizados no Instituto Biológico têm demonstrado a etiologia fúngica desta doença e sua semelhança com o agente causal da mancha anelar da cana de açúcar, Leptosphaeria sacchari, cujos resultados necessitam ser complementados com estudos em laboratório e casa de vegetação. Além disso, o fungo P. maydis, vem sendo denominado também como Metasphaeria maydis. A forma imperfeita deste patógeno é referida como Phylosticta sp. por alguns autores e Phoma maydis por outros. Devido à recente reclassificação das espécies de Phoma, baseada em critérios moleculares, fazem-se necessários mais estudos para confirmar a nomenclatura mais adequada deste patógeno. Uma outra forma de demonstrar a etiologia fúngica da doença, e conhecer o modo como o patógeno infecta as plantas, é através de observações microscópicas da sua infecção e desenvolvimento, assim como das alterações celulares causadas pelo patógeno no tecido foliar das plantas. Este conhecimento também pode auxiliar a direcionar formas de manejo da doença.
Ainda, lesões causadas por deriva de herbicidas da família do paraquat também têm sido confundidas com os sintomas desta doença, indicando a necessidade de se comprovar a causa dos dois sintomas para a correta identificação da doença e da origem abiótica das lesões produzidas pelos herbicidas.
Isto posto, verifica-se a necessidade dos seguintes objetivos:
1. Monitorar a ocorrência de novas doenças do milho e flutuações da severidade das principais doenças nos diferentes anos e locais, além de avaliar a resistência de grande número de híbridos comerciais, em ensaios de competição de cultivares de milho safrinha, conduzidos nas diversas regiões produtoras do Estado de São Paulo.
2. Estudar anualmente a interação da resistência a doenças com o manejo de fungicidas sobre a produtividade dos híbridos recém lançados em comparação aos mais plantados pelos agricultores, nos principais ambientes de cultivo de milho safrinha no estado.
3. Obter informações técnico-científicas sobre a eficácia de controle e o impacto produtivo do uso racional de fungicidas para controlar doenças foliares do milho segunda safra, sobretudo a mancha de Phaeosphaeria maydis, além das demais doenças.
4. Efetuar a caracterização cultural, patogênica e molecular de isolados do fungo P. maydis e do fungo assemelhado da cana.
5. Realizar observações em microscopia ótica, ou eletrônica de transmissão e varredura, da infecção e desenvolvimento do patógeno P. maydis em tecido foliar de milho.
6. Induzir a formação de lesões causadas pela deriva do herbicida paraquat em casa de vegetação e realizar análise de resíduos em lesões coletadas no campo para comprovar sua causa abiótica.
Metodologia
1. Será avaliada anualmente a intensidade de doenças de ocorrência natural em cerca de 30 a 50 cultivares de milho safrinha, em ensaios regionais conduzidos sob a coordenação do IAC/APTA, com obtenção da produtividade. Cada ensaio será conduzido em 10 a 15 municípios das regiões do Vale do Paranapanema, Norte, Noroeste e Sul do Estado de São Paulo.
Será obtida a resistência das cultivares e correlacionada com a produtividade e o ambiente para estimar o dano causado pelas doenças e a necessidade de manejo complementar.
2. Em pelo menos dois locais anualmente, em ensaios instalados pelo IAC com 30 a 50 cultivares de milho safrinha, será avaliada a severidade das doenças foliares com tratamentos com e sem aplicação de um fungicida com ação efetiva no controle de doenças. Será analisada a interação das cultivares com o controle químico das doenças e o ambiente e avaliado o efeito comparativo na proteção da produtividade.
3. Serão comparados diversos fungicidas quanto à eficácia no controle de doenças e na proteção da produtividade, em um ensaio de rede com um híbrido, liderado pelo IAPAR nos diversos biomas brasileiros ou, em ensaios conduzidos pelo IAC, no Estado de São Paulo em pelo menos dois locais, podendo testar diferentes doses de produtos em um a três híbridos.
4. Serão obtidos isolados dos fungos agentes causais da mancha branca do milho e da mancha anelar da cana de diferentes localidades. Estudos de fisiologia, morfologia e esporulação in vitro e testes de patogenicidade em casa de vegetação serão realizados no IAC com isolados dos dois patógenos e também será feito o sequenciamento da região ITS dos isolados e comparado com sequências depositadas no GenBank, no Laboratório de Biologia Molecular do IB, para verificar as semelhanças entre as duas espécies e estabelecer a correta nomenclatura do patógeno do milho e, além disso, se buscará identificar as mutações responsáveis pela baixa sensibilidade do fungo P. maydis às estrobilurinas.
5. Serão efetuadas observações em microscopia ótica, ou eletrônica de transmissão e varredura, da infecção e desenvolvimento do fungo P. maydis, e das alterações morfológicas provocadas no tecido foliar de plantas de milho inoculadas com esse patógeno em casa de vegetação em comparação à infecção natural do campo nos laboratórios do Cbmeg da Unicamp.
6. Serão realizadas técnicas de pulverização com o herbicida de ingrediente ativo paraquat, de forma a se assemelhar à deriva, em comparação a uma testemunha, em plantas de milho, em casa de vegetação. Também será feita análise de resíduos do paraquat, por cromatografia líquida, em folhas de milho coletadas em lavouras nas proximidades de soja dessecada, para confirmar a presença deste herbicida em lesões assemelhadas às causadas por esta deriva e pela mancha de P. maydis, no Laboratório de Plantas Daninhas do IB.
Divulgação dos resultados
Os resultados sobre a resistência dos cultivares serão divulgados através de palestras a produtores rurais em tempo hábil para o acesso a estas informações antes da aquisição de sementes para a próxima safra. Espera-se que os resultados sejam uma referência importante para divulgação pela assistência técnica paulista, contribuindo para o emprego de cultivares mais resistentes e adaptadas aos diferentes ambientes produtores de milho do Estado de São Paulo. Serão também publicados em site na internet e revistas técnicas e científicas.
Os resultados sobre o manejo e controle químico de doenças e a etiologia de patógenos poderão ser divulgados através de trabalhos em congressos e também em palestras, site na internet, livro, capítulo de livro e artigos técnicos e científicos.
GISÈLE MARIA FANTIN | Coordena este projeto |
O SGP (Sistema de Gestão de Pesquisa) foi implementado em todas as unidades APTA, para centralizar o controle de todos os projetos desenvolvidos sob sua supervisão. [Ler mais]
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